Por que os casamentos chegam ao fim?

Nada parece trazer mais felicidade do que o dia do “sim”, que é cercado de protocolos, vestido de noiva e bolo com glacê para os convidados. Os fatos posteriores a essa data, porém, têm mostrado algo diferente. Saiba como é possível sair da corda bamba do amor – ou nem ficar nela

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Falar do coração é até bem fácil. Afinal, ele carrega toda a roupagem do amor embrulhada na melhor das intenções. Responsável pelos sentimentos, contudo, cabe a ele uma tarefa mais nobre: nos permitir viver. Por exemplo, ele é o órgão que, com a ajuda de aparelhos, se mantém ainda pulsando quando ocorre uma morte encefálica. Embora declaradamente mortas, muitas pessoas podem continuar com o coração batendo por indução artificial. Nesse ponto, contudo, o quadro é considerado irreversível e o despertar significa um milagre. De forma semelhante, muitos casamentos parecem sobreviver à base de aparelhos.

Assim, salvá-los tem sido um grande prodígio – daquele que deixa qualquer mortal boquiaberto.

Sorrateiramente, muitos dardos podem acertar um casamento: o da indiferença, o de uma conversa que deixa mal-entendidos, coisas ditas nas entrelinhas no dia a dia, por exemplo, até chegar a uma linha de chegada que nenhum dos cônjuges, que outrora deram as mãos para trocar as alianças, quer dar o braço a torcer. A solução que parece restar é que cada um torça por si, pois não existem mais planos de uma vida a dois.

Quantos casamentos, aliás, são amordaçados todos os dias por mentiras, palavras mal colocadas e decepções? É o retrato do amor saindo pela janela e deixando duas pessoas magoadas em um cenário que nada se assemelha com aquele dia do “sim”, marcado por protocolos matrimoniais, vestido, buquê e bem-casados.

O que poucas pessoas se dão conta é que a falência matrimonial esbarra em situações que não se restringem à infidelidade, à falta de respeito e às atitudes que anulam a palavra empenhada. Ela decorre da falta de cuidado constante. Assim como uma planta precisa ser regada para que não morra, que a saúde precisa ser tratada para que não se adoeça e uma empresa necessita de capital de giro para que não vá à falência, o casamento sem a devida atenção chega ao ponto final.

PRAZO DE VALIDADE
Alguns casos noticiados na mídia fizeram muitas pessoas questionarem os relacionamentos que tinham uma aparência de indissolúveis. Um deles foi o da socialite Kim Kardashian e do cantor Kanye West, que se casaram em maio de 2014, na Itália. Um dia antes, o casal ofereceu um almoço em Château de Wideville, nos arredores de Paris, na França, e, na mesma noite, um “jantar de ensaio” para cerca de 600 convidados no Palácio de Versalhes. Os convidados foram ainda levados em um avião particular para Florença onde aconteceu uma cerimônia luxuosa com presença de Andrea Bocelli. Contudo o casamento de milhões durou até 2021. Kim já foi casada outras duas vezes e um dos enlaces durou apenas 72 dias.

Em outubro de 2022, foi a vez da modelo Gisele Bündchen (foto abaixo) anunciar o divórcio do ex-jogador de futebol americano Tom Brady. A motivação para virar a página teria sido o fato do jogador adiar a aposentadoria da carreira. Pais de Benjamin e Vivian, eles alegaram ter decidido “amigavelmente assinar o divórcio”. Eles ficaram noivos em janeiro de 2009 e um mês depois entregaram alianças um ao outro em Santa Monica, na Califórnia. Em abril do mesmo ano uma cerimônia deslumbrante aconteceu na casa da modelo, na Costa Rica.

CADÊ O AMOR?
Uma pesquisa realizada pela Empresa Júnior em parceria com o jornal A Tribuna apontou que 84% dos entrevistados desejam se casar e que o principal motivo para isso é o amor. E não faltam estudos que apontam o quanto o casamento traz vantagens para a saúde: ele faz bem ao coração, aumenta as chances de sobreviver a um infarto, ajuda a combater o câncer e, de acordo com o Centro Médico da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, aumenta a expectativa de vida dos cônjuges a partir da meia-idade.

Considerando isso, se o casamento faz bem, por que ele chega ao fim para muitos casais? Talvez porque muitos nem saibam o motivo dele ter começado. O livro bíblico de Gênesis detalha que desde o princípio da Criação o casamento e a família foram idealizados por Deus: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (…) Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gênesis 1.27 e 2.24). Em Malaquias 2.15, lê-se que “Não foi o Senhor que os fez um só? Em corpo e em espírito eles lhe pertencem. E por que um só? Porque ele desejava uma descendência consagrada”.

Recentemente, o Bispo Edir Macedo observou que o “casamento é uma união que representa a aliança de Deus com o homem e o casamento de Deus com a Sua Igreja”. Sendo assim, é o casamento que nos faz entender o relacionamento que Deus deseja ter com o ser humano: cercado de cumplicidade, diálogo, companheirismo e verdade. Essa, portanto, é a essência do matrimônio aos moldes Divinos. Propenso a ataques, sobretudo de uma sociedade incrédula e levada a acreditar que se trata de uma instituição falida, cabe a cada pessoa blindar o seu matrimônio. Tocar no casamento é ferir não só a família, mas também princípios genuínos e, a depender dos casos, macular a referência sagrada de relacionamento que os filhos deveriam ter. Alguns casos noticiados recentemente de jovens cometendo atos de violência nos fazem pensar, por exemplo, sobre a importância do casamento saudável.

O Bispo Renato Cardoso e sua esposa, Cristiane, apresentadores do The Love School, na Record TV, e escritores do best-seller Casamento Blindado falaram recentemente da falta de atenção com o casamento. “Um casamento que é negligenciado, descuidado e deixado de lado pelos cônjuges vai à falência”, disse Renato, que ao lado da esposa, são palestrantes da Terapia do Amor no Templo de Salomão, em São Paulo, e conduzem as palestras da Reconstrução do Eu 2.0, voltadas à cura interior dos participantes.

Muitas situações acontecem para que os cônjuges pensem que amor entre eles acabou, como desentendimentos constantes, a desonestidade e a indiferença. Muitos também colocam como motivo para o término da relação a justificativa de “gênios incompatíveis”. Quanto a isso, Renato observa que se trata de uma falácia: “se for considerar as diferenças, não existem dois seres humanos que sejam completamente compatíveis na face da Terra. Isso é uma carta coringa que se usa para justificar porque não mudar e fazer os esforços necessários para salvar o casamento”. Outra razão pela qual muitos casamentos fracassam, segundo ele, é “porque os dois estão focando em outras coisas e não um no outro”.

Durante uma orientação aos casais, ele e Cristiane disseram que a dureza de coração tem sido outro vilão por trás de todo casamento falido. O casal ensina que não existe “problema de relacionamento”, mas entre pessoas, assim como não há “casamento errado”, mas pessoas que fazem o casamento da forma errada. A boa notícia é que dá para aprender a fazer a coisa certa para que o casamento funcione. O primeiro passo é deixar o sentimento de lado para identificar a raiz do problema. “Tudo no que focamos tende a melhorar. (…). Com força, empenho e trabalho aquilo melhora (…). O casamento, depois de Deus, é a coisa mais importante que há. Se você quer mudar o seu, tem que focar nele, começando com você mesmo, e em que você está contribuindo para fazer que o seu casamento seja ruim”, aconselhou Renato.

NA ALEGRIA E NA TRISTEZA…
Os empresários Cleberton da Costa, (foto abaixo) de 41 anos, e Regiane Cabral da Costa, de 38 anos, não tiveram boas referências matrimoniais. Ambos tiveram uma infância sem bons exemplos. “Sou filho de pais separados e fui criado praticamente sozinho, já que minha mãe era obrigada a sustentar a família”, detalha Cleberton. Já Regiane recorda que “embora os pais vivessem debaixo do mesmo teto, eles dormiam em quartos separados e não se falavam”.

Eles se casaram em fevereiro de 2004. “Víamos o fracasso de nossos pais e achávamos que conosco seria diferente”, relata Cleberton. Não foi. Os problemas surgiram logo na lua de mel e as discussões perduraram ao longo dos anos, como lembra ele: “ficamos anos discutindo sobre projetos profissionais e familiares. Eu queria, por exemplo, tentar a vida em outra região, mas acabei ficando frustrado porque ela tinha descoberto a gravidez do nosso primeiro filho (eles são pais de Gabriel, de 15 anos, e de Vitória, de 8 anos). Eu a atacava o tempo todo e a culpava por eu viver um mau momento profissional. Não parecíamos as mesmas pessoas que éramos quando namoramos”. Cleberton diz que eles até tentaram procurar ajuda, mas foi em vão: “nos falaram que era uma fase que passaria, mas parecíamos dois estranhos dentro da mesma casa”.

Tudo estava bem diferente do que tinham imaginado antes de se casarem. “Sentávamos para conversar e a conversa terminava pior do que no início. Me tornei muito agressivo e a maltratava para, de certa forma, descontar um pouco daquela infelicidade”, diz Cleberton. Foram sete anos vivendo naquela situação, até que a relação ficou por um triz, conforme ele descreve: “tínhamos uma funcionária que assistia a tudo e que dizia à Regiane que ela não merecia ser casada daquela forma e, então, apresentou a ela o seu irmão. Naquela época, eu tinha saído de casa, pois as agressões verbais eram tantas que eu temia que algo pior pudesse acontecer. Foi então que minha esposa começou a ter um relacionamento com aquele rapaz.”

Cleberton descreve o que aconteceu: “quando descobri, fiquei muito triste. Meu filho sofria muito: mesmo com pouca idade, ele começou a ter muitos transtornos e dava trabalho na escola. O momento mais difícil foi o da separação, quando ela contratou uma advogada para dar início ao divórcio. Passei o Dia dos Pais sozinho”.

Foi então que Cleberton, que já frequentava a Universal, decidiu usar a Fé. “Primeiro por mim, pois sabia que precisava ser curado”, diz. Depois desse processo, houve a reconciliação, conforme ele conta: “a Regiane acompanhou minha mudança e, passado um tempo, terminou aquele relacionamento e voltamos a conversar. Começamos a fazer a Terapia do Amor e o curso Casamento Blindado”. Cleberton descreve alguns aprendizados que receberam: “a primeira coisa que tínhamos que fazer era parar de nos atacar e levantar ‘a bandeira branca’, mesmo que não tivéssemos vontade. Vimos que estávamos errados e que, por isso, chegamos àquela situação caótica. Foi difícil, mas colocamos tudo em prática.”

Para eles, as palestras funcionaram como uma escola. “Acredito que o maior inimigo do casamento é o tempo. Deixamos de praticar muitas coisas que fazíamos no começo e, com o passar dos anos, não percebemos”, menciona Cleberton. Já Regiane acredita que a falta de diálogo também foi determinante para que o casamento quase ruísse. “O segredo é investir na relação, trabalhar para que as diferenças sejam superadas e colocar Deus na frente. Hoje nosso casamento está completamente restaurado”, observa.

FÃS DE BRIGA
Para o supervisor de gerenciamento de risco Diogo Elizeu dos Santos, de 33 anos, e a assistente contábil Tamires Monteiro dos Santos, (foto abaixo) de 35 anos, tudo era motivo para briga. Ela conta que, aos 16 anos, trabalhava e estudava e que seus pais eram separados: “aprendi que não precisaria depender de ninguém, no entanto, me tornei totalmente dependente de coisas e pessoas”.

Tamires teve vários relacionamentos até conhecer Diogo. “Começamos a namorar e o noivado foi depois de um ano de namoro, mas sem entendimento do que seria aquela responsabilidade. Discutíamos muito, mas sempre colocávamos a ‘sujeira debaixo do tapete’. Como ele cantava e tinha um círculo de amigos grande, eu ficava incomodada, principalmente por causa da afinidade dele com as garotas. Havia muito ciúme da parte dos dois, mas eu era a descontrolada”, conta.

Eles são casados desde 2014 e, segundo Tamires, os problemas sempre fizeram parte da relação. “Quando começamos a viver debaixo do mesmo teto, os problemas se intensificaram. Normalmente passávamos os dias em que estávamos brigados em viagens, saídas e festas com a casa cheia de amigos”, diz. Com a pandemia, no entanto, o cenário mudou: “nós varávamos as madrugadas brigando, sem dormir e as brigas ainda rolavam durante o dia por mensagens no celular. Ele era autoritário e eu era sensível; ele falava mais alto e eu chorava. Não compartilhávamos nada e ficávamos dois, três dias sem nos falarmos. Nosso filho (Matheus, de 8 anos) nos via discutir, mas na frente das pessoas éramos um casal perfeito. Vivíamos um casamento de fachada”, reconhece Tamires.

Diogo, por sua vez, conta que cresceu com uma referência boa de casamento, mas a prática disso por ele era inexistente. “Meu pai sempre tratou minha mãe muito bem e eu via nele uma figura masculina presente e forte. No entanto meu casamento estava prestes a falir.”

Tamires já conhecia a Terapia do Amor e convidou Diogo para que participassem juntos. Ambos aprenderam com os ensinamentos e Tamires revela como passou a ser seu casamento a partir daí: “aceitei que estava errada e aprendi a perdoar, a me respeitar e a ser sensível à Voz de Deus.

Temos, sim, diferenças, mas conseguimos ouvir um ao outro e tomar as decisões. Deus nos restaurou completamente, pois aprendemos a colocar tudo em seu devido lugar e a respeitar o tempo de cada coisa. Somos completos um para o outro. Ter Deus como nosso intermediador foi e é o nosso segredo. Quando aprendemos a confiar e deixar que Ele nos orientasse, tudo passou a funcionar bem”, conclui.

“MAR DE ROSAS”?
O aposentado Claudio Klaiber, (foto abaixo) de 49 anos, e a autônoma Sandra Zonatto Klaiber, de 47 anos, frequentam a Universal há 29 anos – tempo que coincide com o de casados. “Nos conhecemos em 1992. No começo, apesar de tudo ter sido normal, houve insegurança se ele era a pessoa com quem eu deveria me casar e cheguei a pedir um tempo, mas voltamos uma semana depois”, diz Sandra.

Para Claudio, casamento era sinônimo de constituir família e, para ela, “um mar de rosas”, como conta: “nos casamos em dezembro de 1993, em uma cerimônia religiosa com recepção e lua de mel na praia. No início, eu flutuava nas nuvens. Sempre sonhei em me casar vestida de noiva e ser mãe. Engravidei no início do casamento, mas uma semana depois sofri um aborto espontâneo. O Claudio esteve do meu lado o tempo todo, mas eu me sentia só e vazia. Foi assim que chegamos à Universal. Em seis meses engravidei de novo e achei que seria feliz para sempre”, relata.

Nove meses depois, o casal descobriu outra gestação e os problemas se intensificaram. “O meu tempo para meu marido foi diminuindo e ele começou então a me cobrar atenção. Quando discutíamos, ele dizia que, se ele não podia me fazer feliz, era melhor, então, que ele se matasse.”

O casal passou a enfrentar outras situações difíceis, como perdas financeiras, entre outras, como Sandra relata: “ele tinha ciúme da minha família e das crianças. Eu até tentava fazer o que ele queria, mas me sentia frustrada e infeliz.” Claudio admite que ia à Igreja só para vigiar a esposa. “Eu tinha um ciúme doentio. Não deixava que ela fosse à padaria e ao supermercado, por exemplo. Eu fazia de tudo para que ela não saísse de casa.”

Sandra estava cansada da situação e revela o que fez: “falei para a minha mãe que queria me separar e perguntei se podia voltar para a casa deles. Ela me disse que se não tivesse jeito eu poderia, mas que eu tinha a faca e o queijo na mão e só não sabia usá-los. Aquela conversa despertou minha Fé e, em casa, assistindo a um testemunho de cura pela TV, pensei: ‘se Deus cura câncer e tantas outras doenças, Ele pode transformar pessoas’. Então, vi uma luz e comecei a lutar com Deus pelo meu casamento. Não foi fácil. Tentei muitas coisas, mas, quando decidi pedir a Direção de Deus e usar a Fé em favor do meu casamento, entendi que, primeiro, eu tinha que ser feliz comigo mesma e disse isso a meu marido.”

Assim, eles começaram a usar a razão para fazer os ajustes necessários. “Ele parou de me cobrar atenção, me deu liberdade para que eu pudesse ser quem eu sou e passou a ser um homem que chamava a minha atenção sem cobranças. O maior inimigo do nosso casamento foi falarmos idiomas diferentes e não olharmos para a mesma direção”, diz Sandra.

Ela afirma que o segredo para alcançar e estabelecer um casamento bem-sucedido foi priorizar a Deus. “Nisso, as palestras da Terapia do Amor são aliadas porque nos fazem enxergar como o outro enxerga e nos ensinam a parar de olhar apenas para nós para vermos o casamento como um todo.

Também vimos que o diálogo tem que ser constante e que as palavras têm um poder muito grande.” Ela lembra que estão prestes a completar 30 anos de casados e que, “em junho, vamos nos casar novamente na Celebração dos Casamentos. Decidimos ser felizes e lutamos por isso todos os dias”, encerra.

Caso você, leitor, tenha se identificado com este texto, procure ajuda. As palestras da Terapia do Amor ocorrem todas as quintas-feiras e se destinam aos que estão ou não em um relacionamento. Confira os locais em universal.org/localizar.

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: ljubaphoto/getty images, reprodução