A “teoria do mais tolo”

Basta olhar o aumento da inflação, a diminuição do poder de compra e o cenário econômico global anunciando uma possível recessão que o temor sobrevem e qualquer possibilidade de conseguir dinheiro se torna atrativa, principalmente se a conquista dele ocorrer fácil e rapidamente. Não à toa, o número de pessoas que se aventuram em investir cresce ano a ano e o “gostinho de quero mais” tem levado milhares de pessoas a enxergar apenas as promessas e fechar os olhos para os riscos.

Muitos fazem aplicações do seu suado dinheiro sem entender nada do mercado financeiro, apenas em busca de um atalho. Só que, por trás das promessas de rendimentos para todos os tipos de investidores, obviamente, também há pessoas mal- intencionadas e capazes de enganar até as mais prudentes e mais ainda as imprudentes e desavisadas.

Na era mais tecnológica da Humanidade não é de se admirar que até o dinheiro ganhe nuances virtuais, como é o caso das criptomoedas. Já ouviu falar delas? Criptomoeda é uma moeda 100% virtual, sem nenhum vínculo direto com bancos, governos ou pessoas. Com uma origem cheia de mistérios, a principal promessa é de obter grande retorno financeiro em curto período de tempo, o que leva milhões de pessoas a investir nesse tipo de ativo. Mas até que ponto ele é realmente vantajoso e seguro?

Bill Gates, que está há três décadas na lista de homens mais ricos do mundo, é um ávido crítico dessa vertente tecnológica do dinheiro. No ano passado, no evento TechCrunch em Berkeley, Califórnia, ele disse que criptomoedas e NFTs (tokens não fungíveis, um tipo de certificado digital de bens digitais) “são 100% baseados na ‘teoria do mais tolo’, que alguém sempre irá pagar mais do que eu, e que têm, em seu centro, esse anonimato de evitar taxação ou qualquer tipo de regra do governo”.

Todavia, o cerne dos riscos que rodeiam as criptomoedas não é apenas essa gana pelo dinheiro rápido. O principal risco pode ser resumido na expressão popular “tudo que vem fácil…” Acertou quem completou com “vai fácil”.

Nos últimos dias, as manchetes que estamparam os principais jornais de todo o mundo anunciaram que o app de negociação de criptomoedas iEarn Bot está sendo acusado de sumir com o dinheiro de seus investidores. O caso revelado pela BBC pode ser um dos maiores escândalos de criptomoedas de todos os tempos, em que milhares de pessoas de diferentes países que acreditaram na promessa de obter um retorno financeiro vantajoso por meio da compra de criptomoedas, um belo dia, entraram no aplicativo e suas contas estavam zeradas.

Por ser uma moeda virtual e sem vínculos físicos, rastrear todo esse dinheiro e descobrir quem são os criminosos é uma árdua tarefa e, por isso, países têm criado e capacitado equipes para lidar somente com crimes envolvendo esses ativos virtuais. Os Estados Unidos são um deles e criou a National Cryptocurrency Enforcement Team (NCET) que, no ano passado, com outros órgãos do governo norte-americano, realizou no Brasil a Conferência de Investigação e Prospecção de Crimes Cibernéticos e Identificação, Avaliação e Prevenção de Atos de Violência, para treinar as forças de segurança brasileira para combater e investigar crimes envolvendo criptomoedas. No Brasil, também temos a Lei 14.478/2022, que regulamenta as prestadoras de serviço de ativos virtuais e entrará em vigor em junho deste ano.

Como dito antes, há pessoas mal-intencionadas e que veem na ideia das criptomoedas uma oportunidade de defraudar o máximo de pessoas que conseguirem. Seja pela ganância, inocência, imprudência ou qualquer outro motivo que levou milhares de pessoas a acreditar nas promessas da iEarn Bot, agora lhes resta uma conta zerada e uma baita dor de cabeça – e, infelizmente, essa não é a única “empresa” a causar isso em milhares de pessoas que pensavam que estavam investindo em criptomoedas.

A melhor maneira de não cair em golpes, seja ele qual for, é a prudência. Sempre desconfie de qualquer promessa de retorno financeiro exorbitante e pesquise todas as informações sobre a empresa antes de tomar qualquer atitude. E nunca se esqueça do que diz o Livro mais lido do mundo, a Bíblia: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram com muitas dores”. (1 Timóteo 6.10). O melhor caminho para a prosperidade sempre será ser digno dos seus ganhos. Por outro lado, os atalhos podem gerar perdas e muitas frustrações.

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Colaborador

Redação / Foto: Getty images